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MINHA CONTRIBUIÇÃO PARA A REVISTA DA ACLER 2019
EM
1981 O ESTADO CONSTRUÍDO A MUITAS MÃOS (II)
(Atores
que passam longe da dita História)
Lúcio
Albuquerque, repórter. Membro da Academia de Letras de
Rondônia e autor de livros sobre a História (segmentada) de Rondônia.
Em
Rondônia, uma coisa que salta à vista, é a existência de fatos históricos que
representam muito, mas que entram para o rol de “Uma história que deveria ser, mas não
é honrada”, envolvendo pessoas que deram
enormes contribuições a Rondônia, e que são ignorados por quem deve motivar seu
conhecimento.
Querem um exemplo? O fato histórico que
pode rivalizar com a própria criação do Estado pouco dele se fala e muita gente
que deveria conhecê-lo, o “Tratado de permuta de Territórios e outras
compensações”, com certeza têm dificuldades em relacionar com o título comum
que aquele documento é conhecido entre nós.
Há alguns anos participei de reunião em
que se discutia a proposta da Data Cultural de Rondônia. Eu estava lá na
condição de convidado, mas acabei sugerindo o dia 17 de novembro. Para minha
surpresa, até porque estavam presentes pessoas que gostam de denotar
conhecimento da nossa História, nenhum dos quase 20 participantes identificou a
data. Aliás, leitor, você já identificou? Parabéns!
A data, que pela sua importância se
tornou maior mesmo que a da criação do Estado, é do que chamamos de “Tratado de
Petrópolis”, de 1903, aquele com a Bolívia que oficializou as terras acreanas
para o Brasil e como uma das compensações foi construída a Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré. Simples: caso não houvesse aquele fato, correríamos o risco de
estarmos na condição de muitas cidades de beira de rio amazônico.
É comum encontrarmos citações – justas,
mais que justas! – sobre os seringueiros nas duas etapas da extração da
borracha, dos que vieram trabalhar para construir a Madeira-Mamoré, a odisseia
daqueles que vieram e fizeram seu trabalho, ainda que muitos pagando com suas
vidas o denodo do desafio da selva, da malária, da ganância dos patrões.
Outro fato? A determinação do
presidente JK para construir a BR (hoje 364) que possibilitou o desenvolvimento
regional, a ocupação do solo, a mudança do perfil econômico deixando de sermos
extrativistas vegetais para abrir espaço à potência que Rondônia hoje
representa na área do agronegócio.
Um Estado tão jovem como é Rondônia não
poderia apagar de sua memória histórica esses fatos, cujos atores, em maioria,
estão aí, mas dos quais praticamente se passa ao largo.
Mas
dentre os fatos que levaram Rondônia a alcançar o status atual há um que,
talvez por ter acontecido durante o período de 1964, é praticamente ignorado
pelos que se atrevem à historiografia local.
Seu
título é Incra, que conseguiu tornar possível a missão que foi dada ao próprio
e realizar o que é chamado de “a única experiência de reforma agrária que deu
certo neste país”.
Em
2011 quando presidi a Academia de Letras de Rondônia – ACLER, realizamos
atividades, com o auditório do Teatro Banzeiros lotado, sobre Rondon. Mas ali
não se tratou da linha telegráfica, da qual muito falam. A Acler foi mais
adiante, tratando de duas temáticas diferentes, a importância do Positivismo na
vida do patrono do nosso Estado. Outra foi sobre a missão científica que
acompanhou Rondon. Fatos que, apesar da relevância, praticamente passam em
branco quando se mergulha na História do Patrono das Comunicações.
Um
Estado ainda buscando seu “norte”, um povo ainda em formação, não pode
continuar convivendo com essa falta de debate sobre sua memória, o que fica
pior, como disse recentemente um historiador, porque sua capital “não
sabe quando foi criada nem definiu a razão de seu nome, Porto Velho”.
São
desafios que precisam ser encarados por historiadores, pesquisadores, pelas
entidades voltadas à cultura e, mais, pela própria Universidade Federal de
Rondônia. Para isso será preciso quebrar tabus e colocar a História de Rondônia
na pauta, o que será uma mudança comportamental que, sem dúvida, precisa
acontecer.
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